Project texts and introductions by :
Stephanie Pommez
. Danilo Santos de Miranda . Milton Hatoum

“E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão
de uma vida Severina”

João Cabral de Melo Neto. IN: Morte e Vida Severina


Mulheres que Preparam para a Vida

Pelas mãos das velhas parteiras da Amazônia uma jornada íntima se inicia diariamente na busca pela renovação de vida. Morte e nascimento se unem nesse equilíbrio delicado, expresso nas faces dessas mulheres que vivenciam um momento ao mesmo tempo único e universal da existência humana. Por entre as margens dos rios amazônicos, ao tangenciar o ritmode vida que flui nas correntezas e na seiva dos troncos das florestas, é configurado a essas mulheres o poder de conservação do patrimônio cultural desta região.




O desejo pela substância vital transfigura-se em suas mãos capazes de trazerem à luz um corpo individual e ao mesmo tempo resvalar em uma prática coletiva, detentora do saber de um povo que vive em seu cotidiano as experiências proporcionadas pela intimidade com a natureza. À semelhança das profundas raízes que procuram pela seiva mais recôndita das árvores na floresta para se transformarem em verde folhagem, seu saber ancestral permite a conservação e a continuidade da vida social da população ribeirinha, evidenciando o respeito ao ciclo da vida.

A exposição fotográfica “Mães de Umbigo _ Parteiras da Amazônia” _ apresentada pelo SESC São Paulo, ao retratar as questões relativas à gravidez e ao parto em um contexto cultural diverso dos grandes centros urbanos pretende despertar o olhar à variação cultural brasileira. Para o SESC, o intuito de ampliar a educação para o olhar, nos territórios do perceptivo e do emocional propiciados pela arte, reafirma seu compromisso com a difusão cultural voltada para o exercício do pensamento. Ampliar o repertório visual reitera uma sensibilização que nos permite vislumbrar os conteúdos simbólicos presentes no coletivo que emanam da arte e convidam para a busca por variadas interpretações, fruto de uma visão atenta às diferentes modulações da paisagem humana.

Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do SESC São Paulo